Faixa etária sugerida: 6-9 anos
Na Floresta Sonolenta, onde as árvores balançavam suavemente como se estivessem dançando e os riachos cantavam canções de ninar, vivia uma pequena raposa chamada Duda. Com seus oito anos de idade, pelagem laranja brilhante e orelhas pontudas sempre atentas, Duda era conhecida por sua energia inesgotável. Enquanto todos os animais da floresta tiravam suas sonecas durante o dia, Duda pulava de galho em galho, explorava cada canto e inventava novas brincadeiras.
Duda morava com sua família em uma toca aconchegante debaixo de um carvalho centenário. Sua mãe, uma raposa sábia e paciente, sempre tentava convencê-la a descansar. “Duda, até o sol precisa de descanso à noite”, dizia ela. Entretanto, a pequena raposa respondia: “Mas mãe, há tanto para descobrir! Sinto que vou perder algo importante se fechar os olhos.”
Os amigos de Duda também não entendiam sua aversão ao sono. Bento, o gambá preguiçoso, passava a maior parte do dia enrolado como uma bola, sonhando com frutas suculentas. Zefa, a coruja noturna, mal conseguia manter os olhos abertos durante o dia, pois sua natureza a fazia mais ativa quando a lua aparecia no céu.
Porém, Duda era diferente. Ela amava a floresta em estado de vigília.
Ficava encantada observando as flores desabrocharem sob as pinceladas douradas do sol matinal, como se cada pétala se esticasse preguiçosamente após um longo sono. Os pássaros, por sua vez, teciam seus ninhos com uma precisão de artesãos, entrelaçando galhos finos e teias de orvalho como se bordassem um tapete voador. Cada amanhecer trazia um mapa secreto a ser decifrado, e Duda recusava-se a fechar os olhos enquanto o mundo desvendava suas maravilhas.
Numa dessas explorações, adentrou um recanto virgem da floresta onde um riacho cantava uma melodia diferente. Suas águas não refletiam apenas a luz; elas a armazenavam, cintilando como se fossem líquido estelar aprisionado entre pedras musgosas. Ao inclinar-se para investigar, Duda descobriu o prodígio: esferas iridescentes dançavam na superfície, não como bolhas de sabão, mas como lantejoulas líquidas que capturavam arco-íris inteiros em seu bojo. Quando sua pata tocou uma delas, um formigueiro mágico percorreu seu corpo – não calor, mas uma efervescência de alegria que fez suas orelhas tremer e seu rabo mexer num ritmo desconhecido.
“O que será isso?”, pensou Duda, sem imaginar que aquela descoberta mudaria completamente sua vida e a de todos na Floresta Sonolenta.

Nos dias seguintes, Duda notou algo estranho acontecendo na Floresta Sonolenta. Os animais pareciam mais cansados do que o normal. Bento, o gambá, que costumava acordar cheio de energia após suas sonecas, agora mal conseguia abrir os olhos. Zefa, a coruja, voava desorientada, batendo nos galhos como se estivesse confusa.
A mãe de Duda também parecia preocupada. “Algo não está certo, minha filha”, disse ela um dia, enquanto tentava em vão acordar o pai de Duda, que dormia há quase dois dias seguidos. “Os animais estão dormindo, porém não parecem descansar. É como se estivessem presos em um sono sem sonhos.”
Duda lembrou-se das bolhas coloridas que havia visto no riacho. Decidiu voltar ao local para investigar. Quando chegou, porém, o riacho estava diferente. As águas estavam turvas e as bolhas coloridas haviam desaparecido. No lugar delas, havia uma névoa cinzenta que parecia sugar a energia do ambiente.
Preocupada, Duda caminhou pela margem do riacho, tentando entender o que estava acontecendo. Foi quando avistou uma figura estranha escondida entre as árvores. Era um ser pequeno e escuro, com um manto que parecia feito de sombras e um chapéu pontudo que escondia seu rosto. A figura carregava um frasco de vidro, dentro do qual brilhavam fracamente as mesmas bolhas coloridas que Duda havia visto antes.
“Quem é você? O que está fazendo com as bolhas do riacho?”, perguntou Duda, tentando parecer corajosa, embora seu coração batesse forte.
A figura se virou, revelando um rosto pálido com olhos grandes e tristes. “Eu sou Melancólico”, disse ele com uma voz que soava como o vento soprando através de folhas secas. “E estou coletando os sonhos da floresta.”
“Sonhos?”, perguntou Duda, confusa. “O que você quer com os sonhos de todos?”
Melancólico suspirou profundamente. “Eu não tenho sonhos próprios. Então, tomo os dos outros para sentir um pouco de alegria, mesmo que seja por um curto período.”
Duda não sabia o que fazer. Por um lado, entendia a tristeza de Melancólico. Por outro, via o sofrimento que sua ação causava a toda a floresta. “Você precisa devolver os sonhos”, disse ela, determinada. “Os animais estão ficando doentes sem eles.”
Melancólico balançou a cabeça. “Não posso. Sem os sonhos, volto a ser apenas vazio e triste.” Com isso, ele desapareceu entre as árvores, levando consigo os sonhos roubados.
Duda sabia que precisava fazer algo. A floresta estava adoecendo, e seus amigos e família estavam sofrendo. Todavia, não queria prejudicar Melancólico, que também parecia precisar de ajuda. Decidiu que encontraria uma maneira de ajudar a todos, mesmo que isso significasse enfrentar seus maiores medos.

Duda sabia que precisava de ajuda para resolver o mistério dos sonhos perdidos. Seu primeiro destino foi a Árvore da Sabedoria, onde vivia Tartaruga, o ser mais antigo e sábio da Floresta Sonolenta. O caminho até a Árvore da Sabedoria estendia-se como um tapete de raízes retorcidas sob um céu que parecia afunilar à distância. Cada passo revelava camadas de desafios, mas nos olhos de Duda brilhava uma chama inabalável.
O primeiro teste materializou-se no Vale das Sombras – não um lugar, mas um vazio onde a luz parecia dissolver-se antes de tocar o chão. As árvores ali não eram apenas escuras; eram negras, com troncos que sugavam o brilho como esponjas famintas. O silêncio não era ausência de som, mas uma presença opressiva que pesava nos ombros. Duda sentia o pêlo eriçar e o coração martelar contra as costelas como um pássaro enjaulado. O escuro não era apenas ausência de luz; era uma substância gelatinosa que envolvia suas patas, tentando arrastá-la para o abismo mental onde seus medos habitavam.
Contudo, ao fechar os olhos (paradoxalmente para enfrentar a escuridão), ela viu os rostos adormecidos de Bento e Zefa. A imagem da mãe exausta, tentando em vão acordar o pai, queimou sua decisão como carvão em brasa: esse medo era pequeno diante da necessidade dos que amava. Com um suspiro que cortou o silêncio como uma faca, ela fincou as garras na terra úmida e avançou – não contra o vale, mas através de si mesma. Respirando fundo, ela entrou no vale, guiando-se pela luz tênue que filtrava através das folhas das árvores.
No meio do vale, Duda ouviu um ruído assustador. Seu primeiro impulso foi correr, todavia ela se lembrou de sua missão. “Quem está aí?”, perguntou, tentando manter a voz firme.
Uma pequena figura surgiu das sombras. Era um esquilo chamado Sombrio, que vivia no vale e era conhecido por seus truques e brincadeiras. “Assustei você?”, perguntou Sombrio, rindo.
Duda admitiu que sim, porém explicou sua urgência em encontrar a Tartaruga. Sombrio, ouvindo sobre o problema dos sonhos perdidos, ofereceu-se para guiá-la através do vale. “Conheço todos os atalhos”, disse ele. “E também sei algumas coisas sobre sonhos e sobre Melancólico.”
Durante a travessia, Sombrio explicou que Melancólico costumava ser diferente. “Ele era chamado de Alegria”, contou o esquilo. “Era o guardião dos sonhos da floresta, ajudando os animais a terem pesadelos agradáveis e sonhos felizes. Porém, algo aconteceu que o mudou completamente.”
O que exatamente havia acontecido, Sombrio não sabia. Contudo, sugeriu que Duda perguntasse à Tartaruga, que provavelmente teria mais informações.
Depois de cruzar o vale, Duda e Sombrio chegaram à Montanha do Eco, onde vivia a Tartaruga. Subir a montanha era outro desafio, pois Duda tinha medo de altura. Contudo, com a ajuda de Sombrio, que a encorajava a cada passo, ela conseguiu chegar ao topo.
Lá, encontraram a Tartaruga, uma criatura imponente com casco coberto de musgo e olhos que pareciam conter o conhecimento de séculos. “Sei por que você está aqui, pequena Duda”, disse a Tartaruga antes mesmo que Duda pudesse falar. “Os sonhos da floresta estão em perigo, e apenas você pode ajudá-los.”
A Tartaruga explicou que Melancólico havia sido transformado por uma magia antiga, após ser traído por alguém em quem confiava. “Ele não é mau por natureza”, disse a Tartaruga. “Apenas está ferido e solitário. Para ajudá-lo e recuperar os sonhos da floresta, você precisará encontrar a Fonte dos Sonhos Perdidos, que fica além da Cachoeira do Esquecimento.”
Duda sentiu um calafrio. A Cachoeira do Esquecimento era um lugar perigoso, onde quem se banhasse em suas águas perderia suas memórias. Porém, ela sabia que era a única esperança para salvar a floresta. Com a ajuda de Sombrio e as instruções da Tartaruga, Duda partiu em direção à sua maior aventura até então.

A jornada até a Cachoeira do Esquecimento foi árdua. Duda e Sombrio enfrentaram terrenos acidentados, rios turbulentos e noites frias. Todavia, a determinação de Duda não vacilava. Ela sabia que cada minuto era importante para os animais da Floresta Sonolenta, que continuavam presos em um sono sem sonhos.
Finalmente, avistaram a cachoeira ao longe. Era uma imponente cortina de água que caía de uma altura assustadora, envolta em uma névoa misteriosa. Ao redor, a vegetação era rala e o ar parecia vibrar com uma energia estranha.
“É ali”, disse Sombrio, apontando para uma pequena caverna atrás da cortina de água. “A Fonte dos Sonhos Perdidos fica dentro dessa caverna. Porém, para chegar lá, precisamos passar pela cachoeira.”
Duda engoliu seco. O medo da água e da altura a paralisavam por um instante. Ela olhou para Sombrio, que parecia tão assustado quanto ela. “Não precisamos fazer isso”, disse o esquilo. “Podemos voltar e tentar encontrar outra maneira.”
Entretanto, Duda sabia que não havia tempo a perder. Os animais da floresta estavam ficando mais fracos a cada dia que passava. Ela precisava ser corajosa, não apenas por si mesma, mas por todos que amava.
“Vamos fazer isso”, disse Duda com mais confiança do que realmente sentia. “Juntos.”
Aproximaram-se da cachoeira, o som da água batendo nas rochas ficando cada vez mais alto. Duda sentiu seu coração acelerar. Respirou fundo, lembrou-se de todos que estavam contando com ela, e deu o primeiro passo em direção à cortina de água.
A força da água quase a derrubou, porém Duda se agarrou firmemente às rochas escorregadias. Sombrio a seguia de perto, ambos se ajudando mutuamente. O caminho era estreito e perigoso, com a água batendo em seus corpos e tornando a visão quase nula.
De repente, Duda escorregou. Por um instante, sentiu o vazio sob seus pés, o pânico tomando conta de seu ser. No entanto, antes que pudesse cair, sentiu uma mão (ou melhor, uma pata) agarrando firmemente seu braço. Era Sombrio, que a puxou de volta para a segurança.
“Obrigada”, disse Duda, tremendo. “Eu quase…”
“Mas você não caiu”, interrompeu Sombrio. “E estamos quase lá.”
Com renovada determinação, continuaram sua jornada através da cachoeira. Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, alcançaram a caverna. Dentro, o ar era tranquilo e silencioso, uma stark contraste com o caos lá fora.
No centro da caverna, havia um pequeno lago cuja água brilhava com uma luz suave e dourada. Flutuando sobre a água, havia inúmeras bolhas coloridas, similares às que Duda havia visto no riacho, porém muito mais brilhantes e numerosas.
“A Fonte dos Sonhos Perdidos”, sussurrou Duda, maravilhada.
Enquanto observavam, uma figura familiar emergiu das sombras. Era Melancólico, com seu frasco de vidro na mão, pronto para coletar mais sonhos.
“Você não deveria ter vindo aqui”, disse ele com sua voz triste. “Agora, terei que tomar seus sonhos também.”
Duda sentiu um calafrio, porém se manteve firme. “Não vamos lutar contra você”, disse ela calmamente. “Viemos para ajudá-lo.”
Melancólico pareceu surpreso. “Ajudar-me? Ninguém nunca quis me ajudar antes. Todos só têm medo de mim.”
“Porque você está tomando algo que não é seu”, disse Sombrio, mais cauteloso. “Mas Duda acredita que há uma maneira de resolver isso sem prejudicar ninguém.”
Duda deu um passo à frente. “Nós sabemos que você costumava ser diferente. Que você era Alegria, o guardião dos sonhos. O que aconteceu para mudá-lo?”

Melancólico hesitou, porém algo nos olhos de Duda pareceu alcançá-lo. “Fui traído”, disse ele finalmente. “Por alguém em quem confiava. Roubaram meu próprio sonho, e sem ele, me tornei vazio e triste.”
Duda sentiu uma pontada de compaixão. Ela entendia agora por que Melancólico agia daquela maneira. Contudo, ainda não sabia como ajudá-lo. Foi quando teve uma ideia corajosa, talvez até mesmo arriscada demais.
“E se eu compartilhasse meus sonhos com você?”, propôs Duda. “Não dando, mas compartilhando. Talvez, juntos, possamos encontrar uma maneira de restaurar não apenas os sonhos da floresta, mas também os seus.”
Melancólico olhou para ela, surpreso. Sombrio, ao lado, sacudiu a cabeça, preocupado. “Duda, não faça isso. Você não sabe o que pode acontecer.”
Todavia, Duda já havia tomado sua decisão. Ela sabia que arriscava seus próprios sonhos, porém acreditava que valia a pena se isso significasse salvar a floresta e ajudar Melancólico a encontrar sua alegria novamente.
Duda aproximou-se de Melancólico com cuidado, estendendo a pata em um gesto de amizade. “Vamos compartilhar nossos sonhos”, disse ela suavemente. “Juntos.”
Melancólico hesitou, o conflito visível em seus olhos tristes. Parte dele queria aceitar a oferta, porém outra parte temia ser traído novamente. “E se eu não conseguir controlar minha necessidade de sonhos?”, perguntou ele, a voz tremendo. “E se eu acabar tomando todos os seus sonhos, como fiz com os outros?”
“Então nós encontraremos uma maneira”, disse Duda com confiança. “Você não está mais sozinho. Eu e Sombrio estamos aqui para ajudá-lo.”
Sombrio, ainda preocupado, aproximou-se também. “Ela está certa. Talvez a solução não seja lutar contra você, mas sim entender o que aconteceu e como podemos reverter.”
Melancólico olhou de um para o outro, e pela primeira vez em muito tempo, uma pequena faísca de esperança brilhou em seus olhos. “Muito bem”, disse ele finalmente. “Vamos tentar. Porém, precisamos ir até o centro da Fonte dos Sonhos. É lá que a magia é mais forte.”
Os três se aproximaram do lago dourado no centro da caverna. Duda sentiu uma energia estranha emanando da água, como se milhares de vozes sussurrassem ao mesmo tempo. “O que precisamos fazer?”, perguntou ela.
Melancólico explicou que precisavam mergulhar nas águas da fonte enquanto se concentravam em seus sonhos mais queridos. “A água vai conectar nossos sonhos”, disse ele. “Porém, é um processo perigoso. Se alguém perder o foco, pode ficar preso para sempre no mundo dos sonhos.”
Duda engoliu seco, porém se manteve firme. Ela olhou para Sombrio, que assentiu com determinação. Juntos, os três entraram no lago.
A sensação foi indescritível. Duda sentiu como se estivesse flutuando no ar, enquanto imagens e sensações invadiam sua mente. Viu-se correndo pela floresta com seus amigos, brincando nas margens do riacho, ouvindo as histórias de sua mãe ao pé da lareira. Eram seus sonhos mais preciosos, aqueles que guardava no coração.

Ao lado, podia sentir a presença de Sombrio e Melancólico. Os sonhos do esquilo eram cheios de aventuras e travessuras, enquanto os de Melancólico eram escuros e vazios, como um céu sem estrelas.
De repente, Duda sentiu uma força puxando seus sonhos em direção a Melancólico. Era um desejo incontrolável, uma necessidade de preencher o vazio dentro dele. Por um instante, sentiu seus próprios sonhos começando a desaparecer, absorvidos pela escuridão.
“Duda!”, ouviu a voz de Sombrio, distante. “Concentre-se! Não deixe que ele tome tudo!”
Duda lutou para manter a consciência de si mesma. Sabia que precisava encontrar uma maneira de ajudar Melancólico sem perder seus próprios sonhos. Foi quando teve uma ideia. Em vez de resistir, ela decidiu dar ativamente um de seus sonhos mais preciosos para Melancólico.
Concentrou-se em uma memória especial: o dia em que havia descoberto o riacho das bolhas coloridas, sentindo pela primeira vez a magia da Floresta Sonolenta. Com todo seu coração, ela ofereceu esse sonho a Melancólico.
O efeito foi imediato. A escuridão que envolvia Melancólico começou a recuar, substituída por uma luz suave. Pela primeira vez, ele começou a experimentar um sonho verdadeiro, não um roubado, mas dado livremente.
“O que… o que está acontecendo?”, perguntou Melancólico, sua voz mudando, tornando-se mais clara e melodiosa.
“Você está sonhando”, disse Duda, sentindo uma onda de alívio. “Verdadeiramente sonhando.”
A transformação de Melancólico acelerou. Seu manto de sombras começou a se desfazer, revelando roupas coloridas por baixo. Seu rosto perdeu a palidez, ganhando um brilho saudável. E seus olhos, antes tristes e vazios, agora brilhavam com alegria e vida.
“Eu me lembro”, disse ele, sua voz agora cheia de felicidade. “Eu me lembro de quem eu era! Eu sou Alegria!”
Com essa revelação, uma onda de energia dourada emanou de Alegria, espalhando-se por toda a caverna. As bolhas de sonho que flutuavam sobre o lago começaram a se multiplicar, tornando-se mais brilhantes e coloridas.
“Os sonhos da floresta estão voltando!”, exclamou Sombrio, maravilhado.
De fato, as bolhas começaram a flutuar para fora da caverna, carregadas por uma corrente de ar mágico. Elas se espalhariam pela Floresta Sonolenta, restaurando os sonhos de todos os animais.
Alegria, agora completamente transformado, olhou para Duda com gratidão. “Você me salvou”, disse ele. “Não apenas devolveu meus sonhos, mas me ensinou o verdadeiro significado da amizade e da generosidade.”
Duda sorriu, sentindo um calor em seu coração. “Nós nos ajudamos mutuamente”, disse ela. “E agora, juntos, podemos cuidar dos sonhos de toda a floresta.”
A transformação da Floresta Sonolenta foi notável. Assim que os sonhos retornaram aos animais, um novo vigor tomou conta de todos. As cores pareciam mais vibrantes, os sons mais melodiosos e o ar mais fresco. Duda, Sombrio e Alegria (antes Melancólico) retornaram como heróis, recebidos com festa e alegria.
A mãe de Duda envolveu-a num abraço que parecia tecer raízes entre seus corpos, como se a floresta inteira se comprimisse naquele gesto. Seus ombros tremiam sob o peso das lágrimas – não de tristeza, mas de um orvalho que lavava o cansaço acumulado. Cada gota que escorria por seu rosto era uma promessa desfeita e refeita, cristalizando no ar antes de sumir no pelo da filha.

Quando afinal afastou o rosto, seus olhos eram dois poços de luz refletindo a chama de Duda. “Seu coração sempre foi mais forte que seu medo”, sussurrou, enquanto as mãos trêmulas ajustavam uma folha despenteada no pelo da raposa. A voz carregava não apenas orgulho, mas o eco de todas as noites em vigília, todas as preces sussurradas ao vento. “Quando você partiu, levei um pedaço da floresta comigo… e agora você devolveu inteira.”
Nesse instante, o abraço transformou-se em algo maior: não eram apenas duas raposas, mas a própria Floresta Sonolenta respirando aliviada.
“Sempre soube que você tinha algo especial.”
Duda sentiu seu coração encher-se de orgulho, porém sabia que não teria conseguido sozinha. Olhou para Sombrio, que agora era tratado como um amigo por todos, e para Alegria, que havia encontrado seu verdadeiro propósito novamente.
Alegria estabeleceu-se como o guardião oficial dos sonhos da floresta, porém agora com uma abordagem diferente. Em vez de apenas proteger os sonhos, ele ensinou os animais a cultivarem seus próprios sonhos felizes e a enfrentarem seus pesadelos com coragem.
“Os sonhos são um presente”, dizia ele aos animais reunidos ao redor da Fonte dos Sonhos, que agora era um lugar aberto a todos. “E quanto mais os compartilhamos, mais fortes eles se tornam.”
Duda também mudou. Ela aprendeu a valorizar o descanso e os sonhos, entendendo que eles eram tão importantes quanto a vigília. Contudo, sua alma de exploradora não se apagou – apenas aprendeu a dançar com os ritmos da floresta. Como o sol que recolhe seus raios para reacender a chama ao amanhecer, Duda descobriu que a curiosidade pulsava mais forte quando alimentada pelo silêncio reparador. Seus dias tornaram-se um mosaico de descobertas e pausas sagradas, onde cada soneca era um mergulho no mundo invisível que preparava o espírito para novas aventuras.
Numa noite em que a lua parecia uma fenda prateada no céu estrelado, enquanto o sono envolvia seu corpo como uma teia de seda mágica, uma centelha iluminou sua mente. Não foi um pensamento comum, mas uma semente plantada pelo próprio vento: e se os sonhos pudessem ser colhidos como frutas, compartilhados como mel?
“Alegria”, disse ela, “e se criássemos um festival dos sonhos? Um dia especial onde todos compartilhassem seus sonhos mais felizes e ajudassem aqueles que têm pesadelos?”
Alegria adorou a ideia. Juntos, eles organizaram o primeiro Festival dos Sonhos da Floresta Sonolenta. Os animais decoraram as árvores com fitas coloridas que brilhavam no escuro, prepararam comidas especiais que ajudavam a ter sonhos agradáveis e criaram um espaço onde todos podiam compartilhar suas experiências oníricas.
Durante o festival, Duda percebeu algo maravilhoso. Até Bento, o gambá preguiçoso, que costumava ter pesadelos com monstros assustadores, agora conseguia sonhar com campos de frutas deliciosas e brincadeiras com seus amigos. Zefa, a coruja, que antes tinha dificuldade para dormir durante o dia, agora encontrava paz em seus sonhos, voando por céus estrelados e descobrindo segredos noturnos.
No auge da celebração, Alegria reuniu todos ao redor da Fonte dos Sonhos. “Hoje, celebramos não apenas o retorno dos sonhos, mas também o poder da amizade e da coragem”, disse ele, olhando diretamente para Duda. “E temos uma pequena heroína para agradecer.”
Todos os animais aplaudiram e gritaram o nome de Duda, que se sentiu um pouco envergonhada, porém muito feliz. “Não fiz nada sozinha”, disse ela, olhando para Sombrio e Alegria. “Foi uma equipe.”
Alegria sorriu. “E é exatamente essa a lição mais importante. Nenhum de nós pode enfrentar todos os desafios sozinho. Precisamos uns dos outros, assim como os sonhos precisam de quem os sonha para existir.”
Naquela noite, quando a lua já pendurava seus fios de prata sobre as copas das árvores, a mãe de Duda aproximou-se como uma sombra quente. Seu beijo não tocou apenas o pelo da filha – pareceu desenterrar sementes adormecidas sob sua pele, despertando memórias que Duda nem sabia que guardava.
“Você não apenas cresceu em altura, minha pequena semente” – a voz era um rio manso correndo entre folhas – “você aprendeu a raiz que sustenta todas as árvores: o medo não é inimigo, é o vento que testa nossos galhos.”
Com as patas, ela moldou o ar como se tecesse uma teia invisível. “Veja como os carvalhos mais antigos não fogem das tempestades. Eles se curvam, sentem a chuva lavar suas feridas, e só então esticam seus braços para o sol. Assim você fez: dançou com o escuro, abraçou o frio do Vale, e transformou o próprio tremor em asas.”
Seus olhos brilharam como vaga-lumes capturados. “Por isso sua coragem tem raízes: porque não nasceu da ausência de medo, mas do amor que é maior que ele.”
Duda sentiu então que não eram apenas palavras – era a própria Floresta Sonolenta sussurrando através da mãe, confirmando que cada passo dado no escuro havia tecido luz na teia do mundo.
Duda sorriu, sentindo-se em paz. Pela primeira vez, ela estava ansiosa para fechar os olhos e mergulhar no mundo dos sonhos. Sabia que lá encontraria novas aventuras, novos amigos e novas lições. E quando acordasse, estaria pronta para mais um dia de descobertas na Floresta Sonolenta, que agora não estava mais sonolenta, mas sim cheia de vida, energia e, claro, sonhos maravilhosos.
