Luiza era uma formiguinha de seis anos, com corpo marrom magrinho e duas antenas pretas que tremiam de curiosidade. Ela morava na Colônia Feliz, um formigueiro vibrante sob as raízes de um velho carvalho. Todos os dias, sua rotina era idêntica: carregar folhas verdes para o depósito, organizar sementes em fileiras perfeitas e seguir as regras da rainha Dona Clarice.

Porém, Luiza sentia um vazio no peito. Enquanto as outras formigas trabalhavam em silêncio, ela espiava por uma fresta na raiz, fascinada pelo mundo lá fora. Via borboletas azuis dançando com flores, ouvia o zumbido das abelhas coletando pólen e imaginava o cheiro da chuva caindo nas folhas.

— Um dia, vou explorar tudo isso! — sussurrava, com seus olhinhos escuros brilhando como gotas de orvalho.

Certa tarde, encontrou uma pena de pássaro colorida perto da entrada. Escondeu-a sob seu travesseiro de pétalas, sonhando em voar como as aves. As formigas mais velhas diziam:
— O mundo lá fora é perigoso, Luiza. Fique aqui onde é seguro.

Todavia, seu coraçãozinho pulsava mais forte a cada novo som ou cheiro que vinha de fora. Ela desenhou mapas em folhinhas de papel de seda, marcando “rios de mel” (poeira dourada) e “montanhas de algodão” (flores de dente-de-leão). Enquanto a colônia dormia, Luiza ficava acordada, contando estrelas através da fresta e imaginando como seria sentir o vento nas antenas. Seu maior sonho? Descobrir se o riacho que cantava longe tinha peixinhos dourados, como diziam as lendas do formigueiro.

Na segunda-feira, uma tempestade forte sacudiu a floresta. Chuva torrencial e ventos uivantes fizeram o carvalho ranger de medo. Quando o sol voltou a brilhar, um desastre esperava a colônia: uma folha de bananeira gigante, maior que três formigas juntas, bloqueava a entrada principal do depósito de comida.

— Estamos presos! — gritou a operária Bia, tentando empurrar a folha em vão.

A rainha Dona Clarice reuniu todos no salão principal.
— Sem acesso às sementes e frutas, passaremos fome em três dias — anunciou, com sua voz calma mas preocupada.

As formigas tentaram escavar túneis ao redor da folha, todavia a terra estava encharcada e desmoronava. Foi quando Luiza lembrou-se de suas espiadas.
— Eu sei um caminho! — disse, levantando a mãozinha trêmula. — Há um túnel secreto sob as pedras do riacho, que leva direto ao depósito!

O silêncio tomou conta do salão. As formigas riram:
— Você? É pequena demais para uma jornada tão longa!

Até sua melhor amiga, Tina, duvidou:
— E se houver aranhas?

Contudo, Luiza não desistiu.
— Eu vi o caminho sete vezes! Leva uma hora de caminhada, mas é seguro.

Pegou sua mochila de folha de couve, colocou uma gota de orvalho num recipiente de casca de noz e migalhas de bolo de mel.
— Vou salvar nossa colônia — declarou, com a voz embargada mas firme.

As risadas pararam quando a rainha disse:
— Dê uma chance à nossa pequena exploradora.

Luiza partiu ao amanhecer, com o sol pintando o céu de laranja. Seu primeiro desafio surgiu aos vinte minutos: uma poça de lama tão larga quanto um rio para seu tamanho.
— Como atravessar? — pensou, observando a água barrenta.

Foi quando viu Carlos, um caracol cinzento com concha listrada, boiando lentamente.
— Carlos, posso usar sua concha como barca? — perguntou, educadamente.

O caracol sorriu.
— Claro, pequena amiga! Suba!

Luiza agarrou-se à borda da concha enquanto Carlos a empurrava com seu pé musculoso. No meio do caminho, um vento forte quase levou sua mochila; todavia, ela amarrou-a com um fio de teia de aranha que guardava. Após cruzar, Carlos avisou:
— Cuidado com o vale das pedras rolantes!

Luiza agradeceu e seguiu. Logo, encontrou o segundo obstáculo: um caminho cheio de seixos escorregadios. Ela tropeçou três vezes, rasgando seu uniforme azul. Porém, lembrou-se das palavras da rainha:
— Cair é parte da jornada.

Usou galhinhos como bengala e seguiu. O pior veio ao final: um grão de feijão enorme bloqueava a entrada do túnel secreto. Luiza empurrou com todas as forças, porém o grão nem balançou. Sentou-se no chão, exausta. Foi quando ouviu um zumbido famiMiar:
— Precisa de ajuda?

Era Zé, uma abelha amarela e preta que costumava visitar as flores perto do formigueiro.
— Estou tentando chegar ao depósito, mas este grão… — explicou Luiza.

Zé analisou a situação.
— Se você empurrar de um lado e eu bater as asas do outro, talvez funcione!

Juntos, conseguiram mover o grão o suficiente para Luiza passar.
— Obrigada, Zé! Agora só falta o túnel… — disse Luiza, aliviada.

Luiza respirou fundo, sentindo o peso da esperança de centenas de formigas em suas costas.

Luiza e Zé entraram no túnel secreto. Era escuro, úmido e cheirava a terra molhada.
— Falta pouco — animou-se Luiza, porém seu passo vacilou quando viram a saída: um jardim cheio de teias de aranha prateadas, brilhando sob o sol.

— As aranhas Dona Aranha e Filhas moram aqui — alertou Zé, com asas tremendo. — Elas não gostam de intrusos.

Luiza engoliu seco. O depósito de comida estava visível além do jardim, com pilhas de sementes douradas chamando por ela. Entretanto, o caminho era um labirinto de perigos.
— Volto para casa e tento outro dia? — sugeriu Luiza, com lábios trêmulos.

Zé pousou em seu ombro.
— Se voltar, a colônia passará fome. Mas se seguir… arrisca sua vida.

Luiza fechou os olhos e pensou em suas amigas: Tina contando piadas, Bia ensinando a carregar folhas, a rainha sorrindo ao vê-la organizar as sementes.
— Não posso decepcioná-las — decidiu. — Vamos, Zé! Você conhece um atalho?

A abelha pensou.
— Há uma passagem entre as rosas vermelhas, mas é estreita e as aranhas patrulham por lá.

Luiza olhou para o céu azul.
— Eu sou pequena… talvez passe despercebida.

Contudo, seu medo era palpável. Foi quando Zé teve uma ideia:
— Eu distraio as aranhas enquanto você corre!

Luiza abraçou a amiga.
— É muito arriscado para você!

Zé sorriu.
— Amigos ajudam amigos. Quando eu zumir alto, corra!

Assim combinaram. Luiza preparou-se, sentindo o coração bater como asas de beija-flor. Este seria o maior teste de sua vida.

Zé começou seu plano: voou em círculos zunindo alto, chamando a atenção das Donas Aranha.
— Venham pegar este mel delicioso! — gritou, fingindo carregar um pote de ouro.

As três aranhas, com oitos olhos brilhando, saíram em perseguição.
— Agora é minha chance! — pensou Luiza.

Correu como nunca, desviando de teias que balançavam como armadilhas. O cheiro adocicado das rosas a guiava. Todavia, uma teia solta a envolveu como uma rede!
— Estou presa! — gritou, tentando se soltar.

Uma aranha se aproximou, garras prontas. Foi quando Zé apareceu como um raio: usou seu ferrão para cortar os fios com precisão cirúrgica.
— Corra, Luiza! — gritou.

Livre, Luiza avistou o depósito a poucos metros. Porém, a última aranha bloqueou seu caminho, silhando ameaçadora. Luiza lembrou-se da lição da rainha:
— Juntos somos fortes.

Então, fez algo inesperado: assobiou! Um som agudo que ecoou pelo jardim. Logo, formigas operárias que trabalhavam nas proximidades apareceram.
— Precisamos de ajuda! — gritou Luiza.

De volta ao formigueiro, Luiza foi recebida como heroína. As formigas carregaram-na em um trono de folhas de palmeira, enquanto a rainha Dona Clarice colocava uma coroa de flores de margarida em sua cabeça.
— Sua curiosidade e coragem salvaram a todos! — declarou, com voz emocionada.

Tina e Bia pediram desculpas por terem duvidado.
— Perdoamos-nos? — perguntou Tina, estendendo um galhinho com mel.

Luiza aceitou, sorrindo. Na festa de comemoração, ela contou cada detalhe da aventura: a travessia com Carlos, a ajuda de Zé, a luta no jardim. As crianças formigas ouviam com olhos arregalados.
— Quero ser exploradora como você! — disse uma pequena formiga chamada Mia.

Luiza então teve uma ideia: criou o “Clube de Exploradores da Colônia Feliz”, com Zé como co-fundadora. Juntos, mapearam caminhos seguros, ensinaram primeiros socorros (como usar orvalho para limpar feridas) e até fizeram um “dicionário de perigos” com desenhos de aranhas e lagartos.

A colônia nunca mais passou fome, pois descobriram novos depósitos secretos. Luiza, porém, mudou mais que o formigueiro: aprendeu que ser pequena não impede grandes feitos, que medo é natural mas não deve parar ninguém, e que amigos verdadeiros aparecem nos momentos difíceis.

Certa noite, olhando as estrelas pela fresta, ela sussurrou:
— O mundo lá fora é grande… mas com coragem e amizade, a gente cabe nele todo.

E assim, a formiguinha antes tímida tornou-se uma lenda viva, provando que a maior aventura é acreditar em si mesmo.

Juntas, elas formaram uma corrente humana… ou melhor, “formiga”: empurraram a aranha com força coletiva enquanto Zé a distraía com zumbidos. A aranha, surpresa, recuou. Luiza e as operárias alcançaram o depósito, cheio de sementes douradas, frutas suculentas e gotas de mel.
— Conseguimos! — comemorou Luiza, abraçando suas novas amigas.

Zé pousou exausto, mas sorrindo.
— Você foi incrível, pequena guerreira!

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